O papel transformador das microempresas coletivas de mulheres na Amazônia brasileira


Na Amazônia brasileira, as mulheres estão promovendo a transformação. Por meio de microempresas coletivas, as mulheres rurais não só estão aumentando sua liderança e acesso a espaços de tomada de decisão, mas também contribuindo para práticas mais sustentáveis de uso da terra. Em um artigo publicado recentemente na revista Tropical Forest Issues 63 – Women as Stewards of Forests, exploramos como o apoio holístico de governos, ONGs e do setor privado pode aprimorar essas iniciativas, impulsionando o desenvolvimento sustentável e promovendo a igualdade de gênero.

Nossa pesquisa, baseada em entrevistas com 65 mulheres envolvidas em 11 microempresas coletivas nos estados do Acre e do Pará, destaca o empoderamento multifacetado que essas iniciativas promovem. Ela também ressalta seu impacto transformador na dinâmica social e na gestão de recursos.

Além da renda

O empoderamento econômico é um processo multidimensional que vai além da independência financeira. Nosso estudo revela que as mulheres não apenas ganharam poder de decisão em questões financeiras domésticas, mas também aumentaram sua participação em organizações comunitárias. Esse envolvimento permitiu que elas defendessem seus direitos, ganhassem visibilidade na governança local e acessassem redes de apoio essenciais.

As microempresas coletivas desempenham um papel fundamental no fortalecimento da liderança, influenciando políticas e abordando questões fundamentais, como direitos à terra e acesso a recursos. A administração de recursos naturais na Amazônia por essas mulheres cria um vínculo vital entre a capacitação econômica e a conservação, beneficiando tanto as comunidades quanto os ecossistemas. Notavelmente, 42% das famílias mudaram suas práticas de uso da terra para evitar o desmatamento e o fogo, optando por abordagens sustentáveis, como o reflorestamento, o gerenciamento da fertilidade do solo e técnicas de cultivo responsáveis

Como uma mulher de Nova Timboteua, no Pará, compartilhou: “Eu nunca sonhei em trabalhar com abelhas em minha vida. Como recebi treinamento, hoje sei como trabalhar com abelhas, que tipo de plantas você tem que ter para obter mel, porque você sabe que quer reflorestar, não queimar a floresta, se quiser ganhar dinheiro.”

 

Mulheres empreendedoras da Amazônia brasileira.

Crescendo coletivamente

A participação das mulheres em microempresas levou a ganhos econômicos significativos, com 60% da renda familiar agora proveniente do trabalho delas. Essa estabilidade financeira as capacitou a tomar decisões informadas sobre gastos e investimentos, com 16% alocados em ativos produtivos, como o processamento de açaí e a apicultura. A natureza coletiva dessas empresas fortalece o agrupamento de recursos, apoia o desenvolvimento do mercado local e aumenta a resiliência da comunidade.

Além da geração de renda, essas iniciativas contribuem para a segurança alimentar das famílias, com 63% das participantes relatando melhor acesso a frutas, legumes e proteína animal. Os ganhos também apoiam a educação das crianças, a assistência médica e a ajuda financeira para os necessitados. Os programas de treinamento, liderados por organizações de mulheres, instituições governamentais e iniciativas privadas, equiparam as mulheres com habilidades técnicas em agrossilvicultura, apicultura e artesanato. Com 72% dos treinamentos realizados nas comunidades, a participação da família promove o aprendizado compartilhado e a colaboração.

A educação contínua melhorou a autoeficácia, o gerenciamento de recursos e a conscientização do mercado, impulsionando a expansão e a defesa dos negócios. A participação econômica também fortaleceu o reconhecimento e o respeito das mulheres nas famílias e comunidades, aumentando a autoestima e a confiança. Muitas assumiram papéis de liderança, orientando outras pessoas e criando um efeito cascata de capacitação. Notavelmente, 64% das mulheres relataram que melhoraram a tomada de decisões financeiras conjuntas, promovendo a equidade e reduzindo a vulnerabilidade à exploração econômica e doméstica.

“Antes de entrar para a microempresa, eu não tinha voz ativa nos assuntos domésticos. Agora, meu marido e eu discutimos tudo juntos, desde despesas até investimentos”, disse uma entrevistada.

 

O envolvimento em microempresas também fortaleceu a representação em organizações comunitárias, capacitando as mulheres a defenderem preços justos de mercado, apoio governamental e distribuição equitativa de recursos.

Apesar dessas conquistas, os desafios persistem. O acesso limitado ao crédito, aos mercados formais e aos serviços de apoio restringe a escalabilidade e a sustentabilidade das empresas lideradas por mulheres, ressaltando a necessidade de cooperativismo e parcerias estratégicas com ONGs, setores públicos e privados e instituições financeiras.

Os formuladores de políticas e profissionais desempenham um papel fundamental na promoção da igualdade de gênero e do desenvolvimento sustentável na maior floresta tropical do mundo. O apoio direcionado – incluindo capacitação, políticas fundiárias inclusivas, programas de orientação e pesquisas sobre impactos de longo prazo na igualdade de gênero – pode ajudar a garantir o sucesso e a resiliência dessas iniciativas lideradas por mulheres.

Estendemos nossa sincera gratidão à Tropenbos International pela publicação desta pesquisa. Seu apoio ao compartilhamento dessas descobertas ajuda a ampliar as vozes das mulheres em microempresas e contribui para o diálogo contínuo sobre igualdade de gênero e desenvolvimento sustentável.

Você pode acessar a revista Tropenbos International e ler o artigo completo neste link: TFI63: Mulheres como administradoras de florestas – Tropenbos International

Para obter mais informações sobre este tópico, entre em contato com:

Denyse Mello em d.mello@cifor-icraf.org

Biografias

Denyse Mello é pesquisadora sênior do CIFOR-ICRAF, especializada em equidade de gênero, inclusão social e monitoramento e avaliação (MELIA).

Nota do editor: Lídia Lacerda é ex-funcionária do CIFOR-ICRAF no Brasil

Agradecimento:

As autoras agradecem a Tropenbos International pela publicação da pesquisa. Seu apoio na difusão dos resultados contribui para a visibilidade de mulheres em microempresas e fortalece o diálogo contínuo sobre igualdade de gênero e desenvolvimento sustentável.

The post O papel transformador das microempresas coletivas de mulheres na Amazônia brasileira appeared first on CIFOR-ICRAF Forests News.



Source link

More From Forest Beat

El papel transformador de las microempresas colectivas de mujeres en la...

Productora agroforestal en Pará. Oswaldo Forte/ CIFOR-ICRAF Brasil En la Amazonía brasileña, las mujeres están impulsando la transformación. A través de su participación en...
Forestry
6
minutes

Wait, what?! Why is there an international climate conference in the...

Why would world leaders fly thousands of kilometres to the heart of the Amazon for a climate conference? In this episode of Wait,...
Forestry
1
minute

Great Green Wall innovations hailed on Desertification and Drought Day

From food made with overlooked native plants to handbags crafted from wild grasses—and even a simple rope tool to prevent wildfires—community-driven innovation is...
Forestry
5
minutes

Public comment period on proposed rules for post-disturbance harvest rulemaking reopened...

SALEM, Ore. — The Board of Forestry is reopening the public comment period for proposed rule changes related to post-disturbance timber harvest. Post-disturbance...
Forestry
0
minutes
spot_imgspot_img