Alcançar as metas globais de restauração florestal, como o objetivo do Desafio de Bonn de restaurar 350 milhões de hectares até 2030, implica um custo elevado: cerca de 1 trilhão de dólares. Diante de orçamentos públicos limitados e da insuficiência da ajuda internacional, muitos estão voltando sua atenção para o setor privado como fonte-chave para fechar a lacuna de financiamento. Essa necessidade é particularmente urgente em países de baixa e média renda, onde há vastas áreas de florestas degradadas e recursos financeiros escassos.
Apesar do interesse crescente, o financiamento privado para restauração florestal continua limitado. Um motivo central? Investidores não buscam apenas locais onde as árvores possam crescer, mas locais onde possam crescer de forma lucrativa, segura e sustentável. Embora pesquisas anteriores tenham se concentrado em mapear zonas com potencial biológico para restauração, poucas se perguntaram se essas mesmas áreas são atraentes para investidores privados. Nosso estudo recente publicado no Journal of Forests Business Research busca lançar luz sobre essa questão.
Restauração como oportunidade de negócio
A maioria das pesquisas sobre oportunidades de restauração tem focado no potencial biofísico, ou seja, no mapeamento de terras florestais degradadas com potencial de restauração do ponto de vista ecológico. No entanto, para investidores privados é necessário mais do que árvores: é necessário um modelo de negócio.
Este estudo é um dos primeiros a avaliar sistematicamente onde o potencial biofísico coincide com as condições necessárias para atrair investimentos viáveis do setor privado.
Concentramo-nos em dois tipos de investidores:
- Investidores do mercado madeireiro, que buscam retorno por meio de produtos como madeira, lenha, entre outros.
- Investidores do mercado de carbono, que buscam retorno através de créditos de carbono obtidos por atividades de florestamento, reflorestamento e soluções climáticas baseadas na natureza (NCS, na sigla em inglês).
Para avaliar a viabilidade real do potencial global de restauração, analisamos entre seis e sete condições-chave que afetam receitas, custos e riscos. Também nos perguntamos se as áreas com alto potencial de investimento se alinham com prioridades globais, como conservação da biodiversidade e mitigação das mudanças climáticas.
Com dados espaciais em resolução de aproximadamente 1 km, analisamos 115 países de baixa e média renda aplicando esses dois cenários principais. Para cada um, identificamos terras florestais degradadas e avaliamos sua viabilidade para investimento com base em fatores como:
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- Riscos-país
- Taxas de crescimento das árvores (para o mercado madeireiro)
- Potencial de sequestro de carbono (para o mercado de carbono)
- Custos de restauração
- Tamanho da propriedade (economia de escala)
- Segurança dos direitos de propriedade
- Riscos-país
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Nossa análise utilizou a ferramenta se.plan, desenvolvida pela FAO e parceiros, que integra diversos conjuntos de dados geoespaciais relacionados ao potencial de restauração. Para cada pixel de terreno com resolução de 30 segundos de arco (~1 km), classificamos as condições de investimento e contabilizamos quantas eram favoráveis. Por exemplo, um local com baixos custos de restauração e bom acesso ao mercado, mas com alto risco político, teria uma pontuação inferior à de um local que atende a todos os critérios.
Também comparamos os compromissos nacionais do Desafio de Bonn — metas relacionadas à restauração de terras florestais — com nossas estimativas de áreas viáveis para investimento. Por fim, avaliamos se as áreas favoráveis ao investimento também geram co-benefícios, como conservação da biodiversidade e melhoria dos meios de vida locais.
Onde falham as condições de investimento
O principal achado: apenas uma pequena fração das terras florestais recuperáveis em países de baixa ou média renda é atrativa para investidores privados nas condições atuais.
No cenário base, aproximadamente 53% das terras com potencial de restauração atendiam a pelo menos quatro condições favoráveis de investimento, mas menos de 1% atendia às sete. No cenário de soluções climáticas baseadas na natureza, apenas 33% das áreas restauráveis tinham pelo menos quatro condições favoráveis, e novamente, menos de 1% cumpria todas as seis. Uma realidade preocupante: o potencial ecológico para restaurar florestas é muito maior que seu atrativo real para investimento privado.
Zonas com ou sem potencial de investimento
As zonas com maior potencial de investimento concentram-se em países de renda média-alta como Brasil, China e África do Sul, enquanto países de baixa renda — onde a necessidade de restauração é maior — ficam muito atrás. Um dado encorajador: as áreas com alto potencial de investimento também tendem a gerar benefícios significativos para os meios de vida locais, como maior empregabilidade no setor florestal.
Contudo, os benefícios ambientais globais potenciais, como sequestro de carbono e conservação da biodiversidade, nem sempre coincidem com as zonas de maior interesse para investimento, especialmente no cenário voltado ao mercado madeireiro.
Isso revela uma contradição: os países que mais precisam de financiamento para restauração — em sua maioria, países de baixa renda — frequentemente são os menos preparados para atrair investimentos privados.
Políticas públicas continuam sendo fundamentais
Nossa análise sugere que muitos compromissos nacionais de restauração no âmbito do Desafio de Bonn dificilmente serão alcançados apenas com investimento privado. Mais da metade dos países de baixa e média renda incluídos no estudo assumiram compromissos que superam a área de terra atrativa para investidores.
Isso ressalta um ponto crítico: o investimento privado não pode substituir políticas públicas e financiamento estatal. Apenas pode complementá-los.
Os governos desempenham um papel vital na criação de um ambiente propício ao investimento, por exemplo:
- Melhorando o acesso a mercados (infraestrutura, estradas)
- Reduzindo custos de investimento (incentivos fiscais, subsídios à restauração)
- Fortalecendo os direitos de posse da terra para garantir segurança jurídica aos investidores
- Estimulando a demanda (uso de madeira em compras públicas)
Embora o investimento privado geralmente se concentre em projetos com fins lucrativos, como produção madeireira, soluções públicas e mecanismos de financiamento misto são essenciais para garantir que a restauração também contribua para os compromissos globais, como conservação da biodiversidade e mitigação da mudança climática.
Um caminho para futuras pesquisas
Consideramos este estudo como ponto de partida para análises mais detalhadas e específicas conforme o tipo de investidor. Um próximo passo fundamental é refinar os critérios de avaliação de atratividade de investimento, ponderando diferentes fatores com base em pesquisas com investidores e segmentando os resultados por perfil — como investidores de impacto versus empresas florestais tradicionais.
Outra prioridade é melhorar a qualidade dos dados, especialmente aqueles relacionados aos custos e benefícios da restauração em escalas mais detalhadas. Ter conjuntos de dados atualizados sobre custos de implementação, benefícios em termos de carbono e dinâmicas de mercado permitirá fortalecer futuras avaliações.
Este estudo destaca uma realidade difícil, porém essencial: embora a restauração florestal ofereça enorme potencial ambiental e social, mobilizar investimento privado em larga escala exige muito mais do que identificar terras degradadas. Os investidores precisam de um ambiente propício, com direitos fundiários claros, infraestrutura adequada, incentivos de mercado e riscos gerenciáveis. Atualmente, essas condições são atendidas apenas por um número limitado de países e regiões.
O caminho para uma restauração florestal em larga escala precisa ser coletivo: investimento privado, políticas públicas e liderança comunitária devem avançar juntos. Apenas com a combinação de políticas inteligentes e investimento estratégico será possível transformar oportunidades dispersas em uma economia de restauração integrada que gere benefícios para as pessoas e para o planeta.
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